sábado, 28 de janeiro de 2012

CORINTHIANO, MALOQUEIRO E SOFREDOR, GRAÇAS A DEUS

Era 02 de dezembro de 2007,  final de tarde em Porto Alegre, uma tarde ensolarada e que para grande parte do país, foi perfeita, mas para 30 milhões de loucos, foi a pior tarde. O final de ano que acabou, acabou junto com a vida, com a alegria, com o sorriso de uma nação.
"Bateu rasteiro, Marcelo faz a defesa, e esta pode ter sido a última jogada do Corinthians no ataque na primeira divisão em 2007, o Corinthians vai sendo rebaixado - Marcelo beijou a bola que ele defendeu - Marcelo bate pra frente, Marcel tenta o desvio de cabeça, Tuta também vai na bola, Alício Pena Jr. vai pedir a bola, termina o jogo no estádio Olímpico, um para o Grêmio, um para o Corinthians, e o Corinthians está rebaixado para a segunda divisão em 2008."
Naquele mesmo dia, depois de chorar, sentir seu coração parar por alguns instantes, depois de "morrer" a frase: EU NUNCA VOU TE ABANDONAR, PORQUE EU TE AMO, tomou conta de vozes soluçantes e roucas mas não caladas, não fracas. Frase que aqueceu o coração e secou as lágrimas, fez o corinthiano levantar no dia seguinte, vestir seu manto, sair na rua e mostrar à todos que seu amor não estava definido em posição, título ou divisão, que seu amor era unicamente o Corinthians. Seu amor era estar no meio de uma multidão, cantando, gritando, empurrando o time, sua paixão era ver aqueles onze guerreiros destinados a vestir essa camisa de tantas honras, tantas glórias com raça, com amor. Seu sangue é preto e branco, seu oxigênio é cantar o hino sorrindo e se emocionando ao mesmo tempo, lembrando de todos aqueles momentos que ficaram para a história, os golaços do Neto de falta, a comemoração ajoelhada. O calcanhar do Dr. Sócrates e a comemoração com o braço erguido. O samba desengonçado de Tevez, os dribles desconcertantes do pé de anjo. As defesas milagrosas de Ronaldo, os cabelos indo contra ao vento na comemoração dos gols de Biro-Biro, a irreverencia de Vampeta e Viola, as embaixadinhas de Edilson, Dida e as penalidades defendidas. São dezenas de ídolos, de mitos que tiveram a oportunidade de falar: eu fiz parte do bando de loucos, ajudei e estive presente em uma das maiores equipes do planeta. 
Errados aqueles que imaginavam que a torcida deixasse de lado a equipe no momento mais difícil dos seus 98 anos de história vividos até então. Equivocados aqueles que não acreditavam que a equipe ressurgiria facilmente e que a garra seria aos poucos sessada. A torcida novamente provou ser a melhor torcida, a com mais amor, mais louca, maloqueira, sofredora e com uma média de mais de 23 mil pessoas por jogo, cantando e gritando loucamente, "vamo vamo meu timão, não para de lutar" "aqui tem um bando de louco, louco por ti Corinthians" que logo ficaram na boca de todos, não apenas os frequentantes de estádios, mas também em bares, em casa sozinho, mostrando sua disposição para ver novamente a equipe na série A com o mesmo brilho e grandeza que sempre teve. 
Além de deixar quietos os "antis" como são chamados os adversários do timão. Foram verdadeiros guerreiros impulsionados por 30 milhões de vozes fortes e afinadas que deixam qualquer jogador mexido e cheio de vontade. A conquista estava decretada, com a melhor campanha feita por uma equipe na série B, com jogadores que antes eram desconhecidos e ao fim eram heróis de mais um titulo, independente se era B ou A. 
O Corinthians estava de volta, para a tristeza de muitos.
Não basta ser um clube de gênios, craques se não haver um fenômeno entre esse bando de loucos. Ronaldo chegou e com ele trouxe muita valorização, mais do que o clube já possuía, campanhas de marketing, patrocinadores e tudo o que um clube sonha em ter. Estréia? Contra o Palmeiras, 13ª rodada. Quem não lembra? A derrota estava quase sacramentada, aos 47 minutos do segundo tempo, escanteio, bola na área, na cabeça de Ronaldo, pro gol. A grade de proteção tremendo, logo em seguida quebrando, a torcida indo de encontro ao camisa 9, o alambrado quebrando. São cenas eternas que passam na mente de cada um de nós como se fosse ontem, como se tivesse acabado de acontecer.  Se não fosse sofrido, se não fosse na raça, não seria Corinthians. Foi o primeiro gol de uma campanha incrível, de gols maravilhosos, de jogos sofridos e de um título conquistado, o Campeonato Paulista. Que por sinal, foi marcado por um gol, um lance, uma obra de arte na Vila Belmiro, onde nem os santistas deixaram de levantar e aplaudir a genialidade de um craque especialista em reviravoltas na carreira, de lesões terríveis para voltas simplesmente fenomenais. Quer exemplo melhor de corintiano? Na raça, na marra, no amor, na base do sangue, com amor. 
Daí para o título da Copa do Brasil foi um pulinho, e com a vitória a vaga da Libertadores da América no ano do centenário estava definida. 
Chega 2010 com aquela expectativa que deixa o mais calmo corintiano com os nervos a flor da pele. Se é que existe corintiano calmo. Aquela expectativa de ver o motivo da sua vida completar 100 anos, 100 gloriosos anos. Com o projeto Libertadores na mente de todos os devotos dessa religião. O desfecho todos sabem, melhor campanha na primeira fase, enfrente o time com pior campanha na primeira fase, Flamengo, derrota, eliminação. Isso calou a torcida? Isso impediu que aquela massa que faz com que qualquer ser comum se arrepie perante ao espetáculo dado dentro de um estádio? Há revolta, é claro que sim, toda a equipe grande sofre cobranças, veem seus torcedores revoltados, irritados com a atuação do clube, mas nunca deixa o deixa, nunca o abandona, por quê? Porque é a razão da vida deles, só por isso. Por ser amor. No jogo seguinte, lá estão eles, novamente mostrando seu repertório vasto, suas mãos para o alto movendo-se de forma sincronizada... "A semana inteira, fiquei esperando, pra te ver Corinthians, pra te ver jogando. Quando a gente ama não mede esforço, pra te ver jogar te ver jogar!" E quem não se encanta? 
Realmente 2010 não foi o ano do Corinthians. O titulo nacional foi perdido nas últimas duas rodadas e a vaga na Pré-Libertadores não foi recebida de forma positiva pela torcida. Era de se esperar. 
O ano de 2011 começou com a festa de recepção do lateral esquerdo, Roberto Carlos, o que deixou a torcida empolgada novamente com a competição de nível continental. Tolima, quem é Tolima mesmo? Seria fácil, mas a situação física de Ronaldo não estava colaborando, era início da temporada e o time não estaria bem preparado fisicamente para atuar de cara na altitude. A eliminação precoce fez a ira da torcida vir a tona, pichação, ameaças e a saída de Roberto Carlos, aposentadoria do fenômeno. As bocas que gritaram e se manifestaram foram as mesmas que se calaram, os olhos que mostravam ira foram os mesmos que derramaram lágrimas na despedida. 
Foi fácil conquistar o coração do Ronaldo, flamenguista assumido, esqueceu rápido do Flamengo e se rendeu ao bando de loucos, mais um dentre milhões. Sem distinção, ele era apenas mais um que cantava e gritava, sofria, chorava e sorria. 
Um ano que começou mal, com choro, tristeza e dor foi deixado de lado, a final do Campeonato Paulista se aproximava e era necessária toda a força do mundo para empurrar o time para a 27ª conquista estadual. No caminho o Santos de Neymar e cia. Não deu, novamente. Passou, o que não podia ser deixado de lado, ou ser tratado com menosprezo era o Campeonato Brasileiro, a torcida merecia essa estrela, essa conquista, por tudo o que havia passado. 
Foi um dos melhores começos de todos os tempos. Nos 10 primeiros jogos disputados, 9 vitórias, 1 empate. A goleada de 5x0 no rival São Paulo, as eternas piadinhas, rizadas. A liderança desde então. 
Independente se o futebol jogado era ou não de encher os olhos, o equilíbrio e as vitórias iam somando pontos, a liderança se mantinha e se mantéu. Então, no dia 04-12-2011 foi sacramentado o que já era esperado desde o início, Corinthians penta campeão brasileiro. 
Em fim, para um ano que começou com lágrimas e ira, terminar com lágrimas, sorrisos e um hino cantado aos prantos em um estádio com 40 mil pessoas, as mãos para o alto, uma homenagem à Socrátes, um título ao doutor. Como era o sonho dele. Morrer em um dia de título do Corinthians. 
O time do povo, o time que escolhe seus seguidores, nasce-se com DNA corintiano, nasce-se com o simbolo do timão dentro do coração. Vive-se com amor, com dedicação, paixão insana, sem medidas, sem nada e nem ninguém que possa atrapalhar. Eu sei que vocês já conviveram ao menos com um corintiano, um maloqueiro, sofredor, sei que sim, e sei também que nunca entenderam o motivo de tanto amor, tanta devoção, tanta ânsia de ver o time jogar, não importando contra quem, onde, divisão ou posição, só pelo fato de ser Corinthians, só pela alegria inexplicável de ver 11 guerreiros dando o sangue para orgulhar a cada um que está presente no estádio, que está acompanhando em casa, que está pensando no timão. Viver de Corinthians, respirar Corinthians, chorar, sorrir, bater, honrar, defender com a vida, dar tudo, perder tudo para ver o motivo de cada suspiro seu em campo. 
"Não vivemos de títulos, vivemos de Corinthians!"
Posso estar errada, posso estar me equivocando, mas assumo que não existe melhor torcida nesse país do que a corintiana. Viver, cantar, amar apenas uma coisa, apenas um time, dane-se títulos, dane-se o que os outros acham, dane-se o que os outros falam. Não importando a posição, a divisão ou o fato de ter ou não Libertadores. "Gritar é campeão é fácil, quero ver gritar eu nunca vou te abandonar porque eu te amo, seja na primeira, segunda ou terceira divisão." Que torcida faz isso? Que torcida coloca 40 mil pessoas em um estádio, as 10 horas da manhã, canta loucamente, vê o time começar perdendo, mas não deixar de gritar, ver o time empatar e gritar mais alto, ver o time virar aos 46 do segundo tempo e começar a cantar, gritar, é campeão, é campeão, octa campeão da copinha. Tudo na raça, tudo sofrido. Está acostumado a sofrer, está acostumado a presenciar vitórias no final, de virada. 
É digna de respeito essa torcida loucamente apaixonada, que ninguém entende, que muitos invejam e criticam, são maloqueiros, sofredores, corintianos graças a Deus, como eles mesmos se identificam.
Não há de existir melhor arma de defesa e ataque do que a torcida, não há de existir uma melhor forma de incentivar o time, não haverá melhor forma de representar seu amor do que lotar o estádio, fazer o possível e o impossível para ver bem seu time. Ser capaz de dar de seu dinheiro para a construção de algo ou contratação de jogadores. Capaz de deixar de lado sua vida, seu emprego e ir atrás do que lhe faz sorrir, ir atrás de Corinthians o tempo todo, em jogos, concentração, treinamentos. 
Agora me digam vocês, qual é o motivo de tanto ódio ao Corinthians, tanta rivalidade, se como vocês bem dizem, é um time que só conquista campeonato Paulista, não tem Libertadores, Estádio? Por que todos o consideram rival? Por que ele é um dos maiores times do país? Qual é o motivo da ira? Por que todos os meios de comunicação preferem falar de Corinthians a falar de outros times? Por que tantos torcedores loucamente apaixonados? Por quê? Não me faltam perguntas, faltam respostas, falta motivos para explicar a ira, a insatisfação. 
Talvez seja inveja, inveja por ver o time fracassar algumas vezes e a torcida seguir apoiando, gritando e cantando, inveja por ver que mesmo sem tantos títulos internacionais a torcida nunca deixa de apoiar, ou deixa de ir ao estádio. Poucos assumem, mas todos sabem, todos se encantam ao ver a torcida, com aquela torcida especialmente. Os arrepios vão surgindo a cada música cantada como em um coral, adversários tremendo e surpreendidos, como pode tudo isso?
Por fim, chegou 2012, novamente expectativas vem sendo criadas, a Libertadores, o Paulistão, tudo o que está sendo disputado, e como sempre, sendo disputado com garra. Não é para menos, é necessário manter com um sorriso uma nação, uma torcida. Mas eu sei que independente se forem campeões ou não, se ganhar ou perder, se for sofrido ou se for fácil, a torcida nunca vai parar de cantar, nunca vai abandonar a equipe, nunca vai deixar de fazer os jogadores sentirem na pele o que é ser Corinthians, o que é ser cobrado. Nunca vai deixar de causar arrepios e inveja. Nunca vai abandona-lo, porque amam o Corinthians, como amam a própria vida, como amam a família. Raça, amor e paixão. 
Todos os times tem uma torcida, mas o Corinthians é uma torcida que tem um time. 

Um comentário:

  1. Quem leu isso e não chorou não sabe oque é amor por ti Corinthians (L)

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